Saturday, December 15, 2007

The white city

Com a mala presa por uma mao, enquanto a outra apertava o cimo do sobretudo, foi assim que sai do aeroporto e 'ataquei' o manto branco a minha volta.
Um misto de neve e gelo por toda a parte, levando-me a interrogar se os sapatos normais se iriam adequar ao cenario.
8 graus negativos...
Do aviao ja se tornara evidente que nao tinha sido um nevao passageiro. Tudo excepto as estradas e as fachadas dos predios, ja de si sobrecarregados nos telhados, se mostrava igualmente coberto pela mesma ausencia de cor, como se para alem de transportado para outro pais, tivesse tambem atravessado um portal temporal em direccao ao passado, onde apenas existiam ecrans monocromaticos que permitissem o contecto com o exterior.


Foi assim a minha primeira impressao de Moscovo. O menor dos 2 aeroportos internacionais que servem a cidade foi a minha porta de entrada. Ao contrario do que se poderia supor, o meu passaporte Portugues com um visto [de aplicacao unica] emitido pela embaixada Russa na Holanda, nao levantou quaisquer problemas ou questoes. E assim fui acolhido pelo frio e pela neve num pais que desde as 24 horas anteriores ja andava nas bocas do mundo, fruto de uma eleicao algo polemica mas que nao havia surpreendido ninguem, a comecar pelos proprios Russos.

Evitar falar de politica com os colegas [sera demasiado rebuscado chamar 'colega' ao CEO do grupo?..] uma vez no carro. O motorista da empresa apenas fala [fluentemente] Russo, mas nunca se sabe que palavras em Ingles podem suscitar desassossego, ou mesmo a simples mencao ao nome do presidente. Foram cerca de 2 horas no [caotico] transito moscovita. Algo que dizem ser normal, ao que parece. Alias, esse havia sido o motivo pelo qual se sugerira que a 'reuniao' decorresse num dos hoteis do aeroporto. Como parece obvio, nao foi aceite...

Depois de um largo periodo naquilo que eu baptizei de '2a circular' de Moscovo [pese embora nunca ter visto os estadios da Luz e Alvalade cobertos de neve], passamos pelo estadio do Lokomotiv e metemos por ruas mais 'citadinas', chegando as margens do rio... Moscovo. Mais uma licao de geografia que me podera vir a ser util numa proxima sessao de Trivial Pursuit. Mais um [largo] periodo em transito local, agora num exercicio mais de 'corrida' [leia-se 'rally'] e de conducao muito mais do que 'assertiva' da parte do motorista em relacao aos outros transeuntes. Tambem aqui algo de familiar nos comentarios de colegas em visitas anteriores...

O escritorio fica numa parte estranhamente residencial da cidade. Ao que parece ha ja muitos anos, tendo sido entao convertido em sede das operacoes no pais. Depois dos cumprimentos e 'salamaleques' inicias, apenas a oferta de "cha ou cafe ?" e siga que nao ha [mais] tempo a perder. Desconsolado pela perda do almoco, entre o voo e a mudaca do fuso horario, la me contentei com umas bolachinhas que gentilmente alguem trouxe para acompanhar as bebidas [quentes].

Felizmente o jantar compensou o desfasamento dos horarios. Uma vez que estavamos na capital da Russia, nada mais natural do que o convite para um restaurante... italiano! Por mim ainda melhor, ja ouvi dizer que a culinaria na Russia nao e uma especialidade que eu fosse apreciar por ai alem... De uma forma cordial, o carismatico GM local atribui-me a escolha do vinho, mediante as opcoes [lidas na diagonal] no menu. Fiquei-me por um tinto proveniente da Toscania. Logo hei-de saber por um amigo 'conhecedor' [em duplicado... ;)] se terei feito a escolha certa. Pelo 'bouquet' pareceu-me que sim.
Mas ainda antes de o poder provar, ja uma empregada 'rodeava' a mesa, apetrechando cada um dos presentes com um copo [de shot] e enchendo-o de imediato com um liquido incolor, que pelo 'aroma' que exalava do jarro na suas maos seria tudo menos agua: vodka russo, mais puro que uma embalagem de alcool comprada na farmacia para assar chouricos [esperimentem em qualquer farmacia holandesa, e vejam como e dificl convencer o/a empregado/a de que nao tem quelquer intencao de beber o conteudo!...].

Assim foi um brinde, ainda sem nada no estomago, e logo com comentarios cruzados a volta da mesa, do estilo "assim nao, tem de beber o copo todo!"... Ah pois, nao queriam mais nada, aqui em regime de 'dieta-a forca' desde o pequeno-almoco [reforcado] no aviao, e ainda querem que entre numa competicao de testosterona com quem provavelmente ate bebe daquilo ao pequeno-almoco, ou pior ainda, me habilite a fazer figuras tristes diante do 'top management', acabando a cantarolar quaisquer exitos do Marco Paulo com mais de 20 anos...

Depois de uma bela refeicao, e conversa descontraida num ingles de varias pronuncias, tempo de rumar ao [abencoado] hotel, essa tambem uma estoria que quase dava que contar [dado que a reserva apenas foi confirmada no proprio dia, e sabendo de antemao que as alternativas nao seriam muito agradaveis...]. Num fuso horario 2 horas adiantado ao ja 'usual' [por sua vez tambem outra hora 'desfasado' da origem] nao foi dificil sucumbir ao descanso.
Na manha seguinte, arrumada a [pequena] mala e tomado o pequeno-almoco [em agradavel solitude, diga-se de passagem], tempo de reaver o passaporte e 'check-out', para voltar a 'atacar' o frio e a neve no conforto do carro da empresa. Os hoteis sao os novos 'postos fronteiricos' da Russia, onde as identidades e referencias de viagem dos convidados sao confirmadas e comunicadas as entidades competentes. Por mais que nao seja, assim percebemos que talvez nao tenha sido dificil re-alocar funcionarios de algumas conhecidas agencias de 'informacao'...

Nova viagem para o escritorio, agora muito mais curta e passando pelo menos por um dos pontos de referencia de Moscovo, nao o mais celebre, mas sem duvida um dos mais proeminentes na paisagem: a universidade. Pena que nao desse para apreciar a vista do alto do 'planalto' onde fica situado o edificio principal, em virtude da nevoa numa manha ja de si com fraca luminosidade. Desta vez o ambiente de contra-relogio nao permitiu mais do que um almoco na 'cantina', algo com o aspecto de 'mini-prato' mas confeccionado de uma forma extremamente simples.
Terminada a 'discussao', sobrou pouco tempo para as despedidas e toca de 'correr' para o carro, que o 'Schumacher' ja espera para uma sessao electrizante do tipo de 'cena-de-perseguicao-em-transito-citadino', mas em que apenas um carro e protagonista de uma corrida contra si mesmo, na verdade contra o tempo, evitando que os 'convidados' fiquem mais tempo do que o esperado no seu belo pais em funcao do eventual infortunio de perderem o aviao...

Passado o 'susto' de ver a auto-estrada cortada durante alguns minutos [ao que se disse, um tal presidente tera saido da cidade naquela altura, o que normalmente se traduz no fecho inapelavel de qualquer estrada que se atravesse no seu percurso], chegamos saos e a tempo para calmamente fazer 'check-in', passar pelo lounge [improvisado?] e entao rumar ao aviao, para a viagem de regresso. Desta vez o aviao voltou a menos de metade da capacidade e, ao contrario da ida, nao se encontraram vestigios de nativos dos Paises-Baixos a re-arranjaram arbitrariamente a bagagem dos outros viajantes, para assim poderem acomodar a sua propria onde mais lhes convem.
Para tras ficou o frio e o manto branco, numa cidade ainda para 'descobrir' numa proxima oportunidade.


Dosvedanya,

The Flying Expat

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