http://dn.sapo.pt/2007/12/26/opiniao/o_acordo_e_evidencias.html
Saodassõis,
The Flying Expat
I am what I do, and I connect to where I go - and you are a part of it!
Foi assim a minha primeira impressao de Moscovo. O menor dos 2 aeroportos internacionais que servem a cidade foi a minha porta de entrada. Ao contrario do que se poderia supor, o meu passaporte Portugues com um visto [de aplicacao unica] emitido pela embaixada Russa na Holanda, nao levantou quaisquer problemas ou questoes. E assim fui acolhido pelo frio e pela neve num pais que desde as 24 horas anteriores ja andava nas bocas do mundo, fruto de uma eleicao algo polemica mas que nao havia surpreendido ninguem, a comecar pelos proprios Russos.
Evitar falar de politica com os colegas [sera demasiado rebuscado chamar 'colega' ao CEO do grupo?..] uma vez no carro. O motorista da empresa apenas fala [fluentemente] Russo, mas nunca se sabe que palavras em Ingles podem suscitar desassossego, ou mesmo a simples mencao ao nome do presidente. Foram cerca de 2 horas no [caotico] transito moscovita. Algo que dizem ser normal, ao que parece. Alias, esse havia sido o motivo pelo qual se sugerira que a 'reuniao' decorresse num dos hoteis do aeroporto. Como parece obvio, nao foi aceite...
Depois de um largo periodo naquilo que eu baptizei de '2a circular' de Moscovo [pese embora nunca ter visto os estadios da Luz e Alvalade cobertos de neve], passamos pelo estadio do Lokomotiv e metemos por ruas mais 'citadinas', chegando as margens do rio... Moscovo. Mais uma licao de geografia que me podera vir a ser util numa proxima sessao de Trivial Pursuit. Mais um [largo] periodo em transito local, agora num exercicio mais de 'corrida' [leia-se 'rally'] e de conducao muito mais do que 'assertiva' da parte do motorista em relacao aos outros transeuntes. Tambem aqui algo de familiar nos comentarios de colegas em visitas anteriores...
O escritorio fica numa parte estranhamente residencial da cidade. Ao que parece ha ja muitos anos, tendo sido entao convertido em sede das operacoes no pais. Depois dos cumprimentos e 'salamaleques' inicias, apenas a oferta de "cha ou cafe ?" e siga que nao ha [mais] tempo a perder. Desconsolado pela perda do almoco, entre o voo e a mudaca do fuso horario, la me contentei com umas bolachinhas que gentilmente alguem trouxe para acompanhar as bebidas [quentes].
Felizmente o jantar compensou o desfasamento dos horarios. Uma vez que estavamos na capital da Russia, nada mais natural do que o convite para um restaurante... italiano! Por mim ainda melhor, ja ouvi dizer que a culinaria na Russia nao e uma especialidade que eu fosse apreciar por ai alem... De uma forma cordial, o carismatico GM local atribui-me a escolha do vinho, mediante as opcoes [lidas na diagonal] no menu. Fiquei-me por um tinto proveniente da Toscania. Logo hei-de saber por um amigo 'conhecedor' [em duplicado... ;)] se terei feito a escolha certa. Pelo 'bouquet' pareceu-me que sim.
Mas ainda antes de o poder provar, ja uma empregada 'rodeava' a mesa, apetrechando cada um dos presentes com um copo [de shot] e enchendo-o de imediato com um liquido incolor, que pelo 'aroma' que exalava do jarro na suas maos seria tudo menos agua: vodka russo, mais puro que uma embalagem de alcool comprada na farmacia para assar chouricos [esperimentem em qualquer farmacia holandesa, e vejam como e dificl convencer o/a empregado/a de que nao tem quelquer intencao de beber o conteudo!...].
Assim foi um brinde, ainda sem nada no estomago, e logo com comentarios cruzados a volta da mesa, do estilo "assim nao, tem de beber o copo todo!"... Ah pois, nao queriam mais nada, aqui em regime de 'dieta-a forca' desde o pequeno-almoco [reforcado] no aviao, e ainda querem que entre numa competicao de testosterona com quem provavelmente ate bebe daquilo ao pequeno-almoco, ou pior ainda, me habilite a fazer figuras tristes diante do 'top management', acabando a cantarolar quaisquer exitos do Marco Paulo com mais de 20 anos...
Depois de uma bela refeicao, e conversa descontraida num ingles de varias pronuncias, tempo de rumar ao [abencoado] hotel, essa tambem uma estoria que quase dava que contar [dado que a reserva apenas foi confirmada no proprio dia, e sabendo de antemao que as alternativas nao seriam muito agradaveis...]. Num fuso horario 2 horas adiantado ao ja 'usual' [por sua vez tambem outra hora 'desfasado' da origem] nao foi dificil sucumbir ao descanso.
Na manha seguinte, arrumada a [pequena] mala e tomado o pequeno-almoco [em agradavel solitude, diga-se de passagem], tempo de reaver o passaporte e 'check-out', para voltar a 'atacar' o frio e a neve no conforto do carro da empresa. Os hoteis sao os novos 'postos fronteiricos' da Russia, onde as identidades e referencias de viagem dos convidados sao confirmadas e comunicadas as entidades competentes. Por mais que nao seja, assim percebemos que talvez nao tenha sido dificil re-alocar funcionarios de algumas conhecidas agencias de 'informacao'...
Nova viagem para o escritorio, agora muito mais curta e passando pelo menos por um dos pontos de referencia de Moscovo, nao o mais celebre, mas sem duvida um dos mais proeminentes na paisagem: a universidade. Pena que nao desse para apreciar a vista do alto do 'planalto' onde fica situado o edificio principal, em virtude da nevoa numa manha ja de si com fraca luminosidade. Desta vez o ambiente de contra-relogio nao permitiu mais do que um almoco na 'cantina', algo com o aspecto de 'mini-prato' mas confeccionado de uma forma extremamente simples.
Terminada a 'discussao', sobrou pouco tempo para as despedidas e toca de 'correr' para o carro, que o 'Schumacher' ja espera para uma sessao electrizante do tipo de 'cena-de-perseguicao-em-transito-citadino', mas em que apenas um carro e protagonista de uma corrida contra si mesmo, na verdade contra o tempo, evitando que os 'convidados' fiquem mais tempo do que o esperado no seu belo pais em funcao do eventual infortunio de perderem o aviao...
Passado o 'susto' de ver a auto-estrada cortada durante alguns minutos [ao que se disse, um tal presidente tera saido da cidade naquela altura, o que normalmente se traduz no fecho inapelavel de qualquer estrada que se atravesse no seu percurso], chegamos saos e a tempo para calmamente fazer 'check-in', passar pelo lounge [improvisado?] e entao rumar ao aviao, para a viagem de regresso. Desta vez o aviao voltou a menos de metade da capacidade e, ao contrario da ida, nao se encontraram vestigios de nativos dos Paises-Baixos a re-arranjaram arbitrariamente a bagagem dos outros viajantes, para assim poderem acomodar a sua propria onde mais lhes convem.
Para tras ficou o frio e o manto branco, numa cidade ainda para 'descobrir' numa proxima oportunidade.